17 de agosto de 2020
MST

Despejo em Campo do Meio é suspenso com a resistência das famílias e intermediação de parlamentares

Despejo em Campo do Meio

Após três dias de resistência e tensão, com presença de mais de 200 policiais, viaturas da Polícia Militar e até helicópteros, na noite de sexta-feira, dia 14, foi finalmente interrompida a ação de despejo no Quilombo Campo Grande, do MST, no município de Campo do Meio, Sul de Minas.

Parlamentares do PT foram até o local e conseguiram firmar acordo com o Comando da Polícia Militar para não avançar sobre outras áreas e retirar a tropa na manhã de sábado. O despejo, em plena pandemia, teve repercussão internacional, com denúncia à ONU, a mobilização, da Câmara dos Deputados e da Assembleia Legislativa, movimentos sociais e artistas em defesa das famílias.

Os deputados André Quintão, Ulysses Gomes e a deputada Beatriz Cerqueira, e os deputados federais Rogério Correia e Odair Cunha chegaram a Campo do Meio na tarde de sexta-feira, após esgotadas todas as tentativas de negociações com o Governo Zema e o Tribunal de Justiça para suspensão da ação de reintegração de posse, que tem diversas ilegalidades e riscos de propagação do vírus, além de desalojar famílias em plena pandemia.

De campo do Meio, André enviou mensagens após conseguirem o acordo: “Queremos parabenizar as famílias pela brava resistência e também a corrente de solidariedade que se formou em torno desta decisão absolutamente repugnante”, afirmou. No dia anterior, a Escola Popular Eduardo Galeano, única no acampamento, foi tomada, enquanto jovens e agricultores salvavam livros e carteiras. Em seguida, tratores destruíram a escola, hortas e plantios próximos. Seis famílias foram despejadas e a intenção era avançar sobre outras áreas e atingir cerca de 20 casas, mas não foi divulgado o número exato. Na sexta-feira, a PM usou bomba de efeito moral, pessoas passaram mal, quatro foram detidas e áreas incendiadas.

Acampamento tem 22 anos

A coordenação do MST prepara-se agora para iniciar a reconstrução da escola e das casas e, já nesta segunda-feira, 17, providenciar testagem da Covid-19 para as famílias que fizeram a resistência. O acampamento foi criado em 1998, há 22 anos, quando alguns dos trabalhadores da falida Usina Ariadnópolis, desativada em 1996, sem receber as indenizações trabalhistas, decidiram ocupar a área, então completamente abandonada.

Hoje, o Quilombo Campo Grande reúne 450 famílias, organizadas em 11 acampamentos, e a terra está revitalizada, com produção agrícola que é referência nacional em agroecologia. Em 2019, foram produzidas mais de 8 mil sacas de café e 1.100 hectares de lavouras, com destaque para o café orgânico Guaií, que é também exportado.

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