Especialistas advertem sobre perigo da Covid-19 em escolas sem testagens
Profissionais da educação, especialistas, alunos e familiares foram ouvidos, a maioria de forma remota, em audiência pública na Comissão de Educação da Assembleia nesta quarta-feira, dia 7, que debateu o retorno das aulas presenciais em Minas. O Governo do Estado planeja retomar as aulas presenciais nas escolas públicas estaduais a partir de 19 de outubro, inicialmente para alunos do último ano do ensino médio, mas a medida está suspensa por liminar do Tribunal de Justiça (TJMG).
O pesquisador da Fiocruz, Diego Xavier, considerou as aulas presenciais o mais perigoso passo para o aumento da doença, citando o exemplo de Manaus (AM), que registrou novos casos após o retorno das escolas. Outro exemplo foi Israel, citado por Daniel Cara, membro da Campanha Nacional pelo Direito à Educação. Ele atribuiu a pressão pela retomada escolar aos interesses econômicos imediatos e afirmou que, mesmo desse ponto de vista, é preciso considerar os custos do impacto sobre o sistema de saúde. Ele afirmou que 55 milhões de pessoas frequentam as escolas em todo o Brasil, colocando em risco um contingente ainda maior, de 130 milhões de pessoas.
Aulas presenciais ameaçam 400 mil pessoas do grupo de risco
Diego Xavier afirmou que Minas apresentava, em 2014, 403.396 pessoas com diabetes, doenças cardíacas ou de pulmão, que conviviam em casa com criança ou adolescente em idade escolar. Ele entende que um retorno às aulas teria que ser precedido de intensa testagem e rastreio de casos: “As pessoas estão confundindo flexibilização com normalização e não é razoável que o Brasil represente 15% dos óbitos de Covid-19 no mundo”, lamentou.
Diego Rossi, do Dieese, estimou que, se apenas 10% dos estudantes forem contaminados, isso significaria mais de 70 mil estudantes infectados, podendo haver 210 mortes. São vidas, e não números, afirmou. Jacqueline Rodrigues da Cruz, mãe de alunos de escolas públicas em Belo Horizonte, disse temer pelas condições da escola para receber os estudantes e pelo transporte escolar e coletivo. Pesquisa do Fórum Estadual Permanente de Educação (Fepemg) feita em 767 municípios, ouvindo 32.169 pessoas, entre professores (48%), estudantes (23%), familiares (18%), outros funcionários (8%) e gestores (3%), mostrou que 90,3% se posicionaram de forma contrária à retomada, neste momento.