“Brumadinho não será esquecida”, diz comissário da ONU para os Direitos Humanos em visita à cidade
O Grupo de Trabalho da Barragem de Brumadinho, que acompanha os desdobramentos da CPI da Assembleia Legislativa, recebeu na manhã desta quarta-feira, dia 19, o representante do Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos da América Latina, Jan Jarab. Ele se reuniu com parlamentares e assessores para se inteirar dos dados apurados pela CPI sobre o rompimento da barragem da Vale em Brumadinho, que deixou 272 mortos e imensuráveis prejuízos sociais e ambientais, e dos processos de reparação às comunidades e às famílias que tiveram seus entes soterrados pela lama. Jan Jarab, que é de nacionalidade tcheca e já atuou em diversas partes do mundo, afirmou que os organismos internacionais de direitos humanos não permitirão que a tragédia de Brumadinho seja esquecida.
Durante a reunião, o deputado André Quintão, que coordena o Grupo de Trabalho, deu detalhes da apuração do crime da Vale, destacando relatos de seus próprios funcionários e colaboradores dos problemas ocorridos desde 2017 na estrutura da Barragem B1 e minimizados pela empresa. “As mineradoras tratam os direitos humanos com indiferença”, afirmou Jan Jarab, mencionando a importância do Observatório de Direitos Humanos, que deverá ser instalado no Congresso Nacional em parceria com a ONU, para haver vigilância constante sobre elas e para que tragédias como a de Mariana e Brumadinho jamais voltem a acontecer. Também participaram da reunião representantes do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB).
Visita às famílias das vítimas
Após a reunião, o deputado André Quintão e a deputada Beatriz Cerqueira acompanharam o comissário em visita à Brumadinho, onde ele foi ver de perto os danos causados pelo rompimento da barragem e foi recebido por familiares das vítimas na Avabrum (Associação dos Familiares de Víitimas e Atingidos do rompimento da Barragem Mina Córrego do Feijão – Brumadinho). Na reunião, Jarab ouviu relatos sobre o andamento das buscas pelos corpos ainda não encontrados e discutiu as possíveis formas de auxílio da ONU aos atingidos pelo crime da Vale.
“As buscas dos corpos ainda não encontrados não podem terminar. É muito importante. Para as famílias, encontrar os corpos dos desaparecidos é fundamental. As narrativas coincidem com outros países, onde existem desaparecidos por outros contextos. As famílias querem um fim simbólico e, para isso, é importante que seus entes queridos sejam encontrados”, ressaltou o comissário da ONU.
Para o deputado André Quintão, internacionalizar o debate em torno do crime da Vale é fundamental na luta por punição aos responsáveis, justiça às vítimas e reparação aos atingidos. Ele falou, também, sobre a necessidade de dar continuidade às buscas.
“A ONU tem o importante papel de dar visibilidade à tragédia criminosa. A prioridade absoluta é encontrar os 11 corpos desaparecidos. São joias, que as famílias fazem questão de que sejam encontrados”.
“Ferida aberta”
Irmã de Lecilda de Oliveira, uma das 11 pessoas cujos corpos estão soterrados sob a lama, Natália de Oliveira foi uma das representantes das famílias na reunião com Jan Jarab. Ela relatou a angústia de, após mais de um ano do rompimento da barragem, ainda não ter conseguido dar um enterro digno à irmã.
“Estamos vivendo um ‘luto inverso’, com a ferida aberta. A cada dia contamos as horas para que os Bombeiros liguem falando que minha irmã foi localizada”, contou.