23 de maio de 2019
CPI DE BRUMADINHO

CPI de Brumadinho: Estratégia da Vale é blindar os altos escalões

“Ficou nítida a estratégia de defesa da Vale de blindar os seus escalões superiores, com uma espécie de jogo de empurra entre uma área e outra, sem precisar quem tomou a decisão de não acionar o Plano de Ação de Emergência”, afirmou o relator da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Barragem de Brumadinho, deputado André Quintão, após os depoimentos da reunião desta quinta-feira, dia 23, na Assembleia Legislativa. A CPI ouviu dois executivos da empresa: Joaquim Pedro de Toledo, gerente-executivo de Planejamento e Programação do Corredor Sudeste, e Alexandre de Paula Campanha, gerente-executivo de Geotecnia Corporativa. Ambos chegaram a ser presos em fevereiro pelo rompimento da barragem, mas foram liberados.

A reunião foi assistida por familiares das vítimas, que vieram de Brumadinho. Havia quem perdeu cinco seis parentes. Eles cobriram as paredes com fotos dos desaparecidos.

André destacou que as oitivas já demonstraram , no mínimo:

que os problemas de instabilidade da barragem foram comunicados ao nível hierárquico superior da Vale; que, ainda assim, o Plano de Ação Emergencial, providência que caberia às gerências Corporativa e de Geotecnia Operacional e teria evitado quase 300 mortes, não foi acionado; e que o laudo de estabilidade que a mineradora obteve da auditora Tüv Süd foi forjado – já que ele atesta estabilidade e faz recomendações, quando deveria ser o inverso, fazer as recomendações e condicionar a estabilidade ao seu cumprimento.

Entretanto, ao executar as recomendações da auditora, na instalação de um dreno horizontal profundo para reduzir a quantidade de água na barragem, ocorreu um problema e a empresa paralisou a obra. “Mas não paralisou a operação da Mina e nem acionou o Plano Emergencial”, afirmou André. “Será possível que nenhum técnico falou sobre a localização do refeitório e o risco iminente de rompimento da barragem?”, perguntou. Ambos alegaram o tempo todo que nenhum problema antevia o rompimento. Para André, é difícil acreditar que a decisão de acionar o Plano e paralisar a Mina não dependesse de interferências superiores. A CPI buscará mais informações junto ao Ministério Público, Polícias Civil e Federal, com quem trabalha de forma integrada nas investigações.

Comunidade de Brumadinho protesta por reparações

Na segunda-feira, dia 20, os parlamentares da CPI foram novamente à Brumadinho, em audiência pública na comunidade de Córrego do Feijão, ouvir os moradores sobre as providências em curso pela mineradora. Além dos relatos de dor, de perdas, desesperança e revolta com a Vale, os moradores demostraram receio em relação a um desmatamento que a Vale está fazendo, perto do Centro de Brumadinho, para receber os resíduos da barragem rompida, que estão no fundo do Rio Paraopeba. A movimentação de terraplanagem nesse local assustou os moradores, cerca de 70 famílias.“A Vale não pode reprisar injustiças com essas famílias. A reparação tem que ser feita da melhor maneira possível”, disse André, explicando que o Relatório deverá também propor formas de reparação. A CPI vai se informar sobre as obras.

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