Vale envia advogado para testemunhas, mas todas confirmam vazamentos de lama antes da tragédia
Cinco funcionários da Vale, ouvidos na quinta-feira,18, pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) de Brumadinho sabiam do vazamento de lama ocorrido sete meses antes do rompimento da barragem, sendo que quatro deles foram convocados a trabalhar, levando sacos de areia para conter o problema.
Os funcionários foram ouvidos como testemunhas pela CPI e, embora não tenham solicitado, a Vale enviou um advogado para acompanhá-los. Os parlamentares interpretaram a medida como assédio e a consideraram gravíssima. Além disso, um dos convocados, o funcionário Marco Antônio Conegundes, coordenador do Plano de Ação de Emergência da Barragem que não foi acionado e poderia ter salvado vidas, requereu e obteve habeas corpus no Tribunal de Justiça para não comparecer.
“Eu diria que a CPI ganha força, porque quanto mais a Vale tentar obstruir os trabalhos, mais nos empenharemos em mostrar para a sociedade mineira quem são os responsáveis pela tragédia criminosa”, afirmou o deputado André Quintão, relator da Comissão. Foram ouvidos nesta quinta-feira os funcionários Sidmar Moreira, Vagner Zacarias, Renato Figueiredo, Marco Aurélio Amorim e Rodrigo Moreira. A CPI vai convocar novamente, e na condição de investigado, o funcionário Marco Antônio Conegundes e também o funcionário da empresa de auditoria TÜV SÜD, Deni Valentim.
Em nome das ações de mercado?
Após o vazamento ocorrido em 11 de junho de 2018, a Vale considerou o evento de grau 6, mas enviou à Agência Nacional de Mineração (ANM) como de grau 3, certamente para evitar a suspensão dos trabalhos na Mina. “A Vale tentou relativizar a condição de instabilidade da barragem em nome de que? Em nome do lucro, em nome de suas ações no mercado, em nome da continuidade do funcionamento do Complexo do Feijão?”, indignou-se o deputado André Quintão durante os depoimentos de segunda-feira, dia 15, de funcionários de empresas terceirizadas, que igualmente confirmaram o grave vazamento ocorrido no dia 11 de junho de 2018.
Foram então ouvidos o engenheiro Marcelo dos Santos, diretor da Alphageos Tecnologia e o ajudante Antônio França Filho, funcionário da terceirizada Reframax Engenharia, que informou ter trabalhado por quatro dias seguintes a esse vazamento na retirada de água e rejeitos. Ele chorou ao relatar que escapou do rompimento, a 25 de janeiro, tendo ficado preso a ferragens e sido salvo por bombeiros. Morreram 37 funcionários da empresa.